A violência no esporte é um tema complexo e multifacetado, que vai além da agressão física em campo. Autores como John Hoberman, em seu livro "Sport and Political Ideology", e Loïc Wacquant, em "Body and Soul: Notebooks of an Apprentice Boxer", discutem a normalização e normatização das violências na prática esportiva, destacando que muitas vezes a ênfase recai apenas sobre a violência física, negligenciando outras formas igualmente prejudiciais, como a psicológica e a verbal.
A falta de conhecimento e discussão sobre essas outras formas de violência leva técnicos, atletas, pais e a mídia a concentrarem seus esforços apenas na prevenção e punição da violência física, ignorando assim a importância de abordar e combater todas as formas de agressão no esporte. Artigos acadêmicos, como "The Dark Side of Competition: How Competitive Contexts Facilitate Cheating, Disengagement, and Violence", de Nicole E. Ruedy et al., também corroboram essa visão, destacando como o ambiente competitivo pode favorecer não apenas a violência física, mas também outras manifestações de comportamento antiético e agressivo.
Além das manifestações de violência física, é fundamental abordar as formas mais sutis de violência que podem ocorrer durante a formação de atletas nas categorias de base, muitas vezes promovidas por técnicos. Essas formas de violência podem incluir:
Violência psicológica: Técnicos que utilizam táticas de intimidação, humilhação ou manipulação psicológica para motivar seus atletas podem estar perpetuando uma forma de violência psicológica. Isso pode ter efeitos devastadores na autoestima e na saúde mental dos jovens atletas, prejudicando seu desenvolvimento tanto dentro quanto fora do campo.
Violência emocional: O desprezo, a indiferença ou a falta de apoio emocional por parte dos técnicos também podem ser considerados formas de violência emocional. Quando os treinadores não oferecem suporte emocional adequado aos seus atletas, isso pode gerar sentimentos de inadequação e isolamento, afetando negativamente seu desempenho e bem-estar emocional.
Violência verbal: Comentários depreciativos, insultos ou linguagem agressiva por parte dos técnicos podem ser prejudiciais para os jovens atletas, minando sua confiança e autoestima. A comunicação negativa pode criar um ambiente tóxico e desencorajador, afastando os atletas do esporte e deixando cicatrizes emocionais de longo prazo.
Violência institucional: Estruturas de poder hierárquicas dentro das organizações esportivas podem facilitar formas de violência institucional, onde técnicos abusam de sua autoridade para impor práticas prejudiciais aos seus atletas. Isso pode incluir a imposição de treinamentos excessivamente rigorosos, a negligência em relação à segurança dos atletas ou a tolerância à cultura de competição desleal.
Abordar e combater essas formas de violência no esporte requer uma mudança cultural e estrutural dentro das organizações esportivas, com ênfase na promoção de ambientes seguros, respeitosos e empáticos para o desenvolvimento saudável e integral dos jovens atletas. A formação de técnicos e a implementação de políticas claras de proteção aos atletas são passos essenciais nesse processo de transformação.
Portanto, é crucial ampliar o debate e a conscientização sobre todas as formas de violência no esporte, promovendo uma cultura de respeito, ética e fair play em todas as suas dimensões.
Gilsom Maia
Neuropsicólogo
Psicólogo Clínico
Psicólogo do Esporte
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